Três
colombianos desaparecidos e outro decapitado tingem de sangue o Caribe mexicano
A mãe de Tatiana Góez luta da Colômbia para
encontrar sua filha que tinha se mudado para o México em busca de uma vida
melhor
Bogotá /
México 18 JAN 2018 -
12:13 BRST
Yesly Tatiana e Joan Sebastián em
imagem no Facebook
Em uma das avenidas mais importantes da joia
turística do México há um homem decapitado. Joan Sebastián Espinosa,
colombiano de 23 anos, desapareceu quatro dias antes com seu pai, sua namorada,
Yesly Tatiana Góez, e um amigo em Cancún. O corpo de Joan foi o único
encontrado pelas autoridades 20 dias depois do desaparecimento. A mãe de
Tatiana luta desesperada em Medellín para encontrar sua filha, que partiu há
sete meses para o México em busca de um futuro melhor.
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Yesly
Tatiana passou seu aniversário de 25 anos em paradeiro desconhecido. Chegou a
um dos destinos de praia mais cobiçados do mundo em maio do ano passado, um dos
poucos lugares do México em que um trabalhador pode usufruir de um salário em
dólares. Ali morava seu namorado e encontrou trabalho em um salão de beleza de
um centro comercial de Cancún.
A última
vez que Aleida María Gil teve notícias de sua filha foi algumas horas antes de
seu desaparecimento. Em 18 de dezembro, Tatiana lhe enviou uma foto por
WhatsApp. Desde que se mudou para outro país, falavam por telefone
várias vezes por dia. “Falávamos de nós”, conta Aleida María Gil do outro lado
da linha. “Eu queria que ela voltasse para a Colômbia.” Pouco falava de seu
namorado Joan.
Joan e
Yesly Tatiana se conheceram enquanto estavam no ensino médio em Medellín,
mas começaram a namorar mais tarde. “Nunca o conheci, ele estava já há algum
tempo radicado no México”, explica a mãe. Só sabia sobre o jovem que trabalhava
lá cobrando devedores. “Grandes coisas nos esperam juntos. Obrigado por isso.
Te amo”, escreveu Joan a ela nas redes sociais alguns dias antes de morrer.
Joan
pertencia a um grupo de colombianos que ganham a vida em Cancún emprestando
dinheiro. Mas sobretudo — segundo repórteres locais — eram conhecidos pela
maneira como cobravam as dívidas. Um dos grupos aos quais o jovem estava
associado é conhecido como Gota a gota, famoso por exigir os pagamentos sem
piedade: “Se você não paga, queimam seu carro ou até atiram em sua casa”,
contam por telefone alguns vizinhos de Cancún. Um sistema efetivo de
empréstimos que podem ser devolvidos em pequenas quantidades, mas todo dia.
Na
terça-feira, 19 de dezembro, Aleida María Gil recebeu uma ligação da mãe de
Joan. Devia se comunicar o quanto antes com o México. Ligou várias vezes, mas
não teve resposta. Da vez seguinte que seu telefone tocou era a chefe de sua
filha: “Ela me disse que Yesly não tinha voltado ao trabalho”. Alguns dias depois
Gil, assim como os demais colombianos, ficaram sabendo que o namorado de sua
filha tinha aparecido decapitado no México. Foi então que a família de Joan
Sebastián Espinosa contou a ela tudo que sabia.
“Me
explicaram que o namorado de minha filha foi cobrar a dívida de uma senhora. O
pai dele [de férias com a esposa no México], minha filha e um amigo em comum o
acompanharam”, afirma Gil. “Ao que parece, a senhora que foi cobrada se irritou
e chamou a polícia, porque sabia que eram colombianos.” No dia seguinte, a mãe
de Joan Sebastián foi à Imigração em busca de seus familiares, acreditando que
estariam ali esperando a deportação. Nem nessa repartição nem na delegacia
sabiam de nada dos quatro colombianos. “A última coisa que me contaram foi que
a polícia os entregou a um cartel”, disse a mãe de Yesly.
Vinte dias
depois do desaparecimento, a Promotoria de Cancún não acrescentou dados novos
sobre o que ocorreu. E Gil está há 480 horas sem dormir. Assumem que pela
brutalidade do crime — junto ao corpo desmembrado ainda havia um pano com uma
ameaça — pode estar por trás um grupo criminoso. A investigação se concentra
primeiro em confirmar se os três desaparecidos estão ainda vivos.
Cancún, até
há pouco tempo conhecida por suas praias de areia branca e águas cristalinas,
não sabe como se livrar do terror. Em apenas um ano, os números de homicídios estremecem um dos destinos
turísticos mais prolíficos do país: de 86 em 2016 para 220 em 2017,
segundo dados oficiais.
O ano
passado começou com uma advertência: em janeiro um grupo armado baleou a
Promotoria; morreram um agente e três criminosos. Alguns dias antes, cinco
pessoas foram assassinadas em uma discoteca a uma hora dali, em Playa del
Carmen, em pleno festival de eletrônica. E em plena alta temporada de janeiro
deste ano, um comando armado entrou atirando em um bar, matando duas pessoas e
deixando outras sete feridas.
Muitos
acreditam que o crime dos quatro colombianos seja mais um aviso da escalada de violência que vive o município. Nesta
quarta-feira, três corpos foram encontrados dentro de sacos, dois homens e uma
mulher, ainda não identificados. “Não vou descansar até que me deem uma
resposta”, diz a mãe de Yesly Tatiana, que não pôde viajar para o México por
falta de recursos.
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