Saída de Capriles de coligação aumenta racha da oposição na Venezuela
Juan
Barreto/AFP
O anúncio da saída do líder Henrique Capriles do
Movimento de Unidade Democrática (MUD), coligação opositora na Venezuela, vai
enfraquecer os opositores ao regime do presidente Nicolás Maduro e revela
divergências entre os partidos de oposição.
A análise é de Eduardo Heleno de
Jesus, professor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal
Fluminense (UFF), que analisou, com exclusividade para a Sputnik Brasil, como
fica o quadro político depois desse anúncio.
© AP
Photo/ Ariana Cubillos
A decisão de Capriles foi tomada
em resposta a decisão do dirigente do Ação Democrática (AD), Henry Ramos Allup,
de ter aceitado participar da cerimônia que juramentou, na Assembleia Nacional
Constituinte, os parlamentares eleitos nas últimas eleições regionais, em que
os aliados de Maduro conquistaram 18 dos 23 estados do país. Embora a eleição
tenha tido seus resultados contestados por 12 países sul-americanos, entre eles
o Brasil, Comunidade Europeia, Estados Unidos e Canadá, Maduro comemorou o fato
como uma grande vitória do bolivarianismo.
Na prática, a Assembleia Nacional
Constituinte é a força que hoje governa a Venezuela do ponto de vista
legislativo, deixando o Parlamento, onde a maioria opositora tem maioria
simples, reduzido a um simples papel figurativo.
"A saída do Capriles mostra
que há um racha muito grande dentro da MUD. A AD foi um partido fortíssimo na
Venezuela, governou o país por 23 anos, e o próprio Allup esteve presente em
outros momentos da política venezuelana: foi um dos primeiros críticos ao
Carlos Andrés Peréz (presidente entre 1974 e 1979 e de 1989 a 1993), participou
de uma série de ações contra o Chávez — a imagem dele está associada
tentativa de golpe de 2002. A ação dele nas eleições está marcada por uma série
de acusações dentro da própria MUD", observa o professor.
Heleno de Jesus recorda que
Capriles acusou Allup de manobrar com os cinco governadores eleitos da
oposição, dos quais quatro da AD. Segundo o professor, o fato desses cinco
governadores prestarem juramento perante a Assembleia Constituinte acabou sendo
um reconhecimento da legitimidade da própria eleição por parte da oposição.
Na quarta-feira, 25, durante um
fórum em Miami, o ex-chefe do governo espanhol José Maria Aznar fez um apelo
para que a oposição venezuelana se una e não aprofunde ainda mais
as divisões com a anunciada saída de Capriles. O encontro reuniu diversos
ex-chefes de estado da América do Sul com visão neoliberal, como Fernando de La
Rúa e Eduardo Duhalde (Argentina), Luiz Lacalle (Uruguai), Jorge Quiroga
(Bolívia), entre outros.
"Todos esses ex-dirigentes
têm um corte ideológico pró-oposição na Venezuela e querem ser uma espécie de
uma voz legítima no exterior para buscar estimular a oposição, que ficou muito
enfraquecida depois do resultado das eleições. Pela atual situação, é muito
difícil ver de que maneira eles podem dar uma força maior. A divisão entre o
Capriles e o Allup vai exigir a reconstrução de passos, uma vez que há
insatisfação também com outros líderes da oposição", finaliza o professor
do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF.
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