Península
coreana está mais dividida do que nunca
Por Giles
HEWITT
12 de
fevereiro de 2016
As frágeis relações entre as
duas Coreias parecem condenadas a uma nova degradação potencialmente perigosa
após a ruptura dos canais oficiais de comunicação em um momento em que se
multiplicam as questões de discórdia.
O
Congresso americano aprovou nesta sexta-feira, quase por unanimidade, um
endurecimento das sanções contra a Coreia do Norte como reação à realização por
Pyongyang de um novo teste nuclear e o lançamento de um foguete.
A Câmara
de Representantes aprovou por 408 votos a favor e 2 contra um texto que torna
obrigatórias as sanções contra qualquer pessoa ou entidade que fornecer à
Coreia do Norte bens, tecnologia ou treinamento que lhe permitam desenvolver
armas de destruição em massa. O documento agora deve ser sancionado pelo
presidente Barack Obama.
Os dois
Estados rivais, tecnicamente em guerra há mais de 60 anos, já enfrentaram
inúmeras crises no passado que foram superadas.
Mas as
últimas demonstrações de força de Pyongyang - um lançamento de foguete de longo
alcance após o quarto teste nuclear em 6 de janeiro - desferiram um duro golpe
para as esperanças de diálogo ou de compromisso.
O Norte
está empenhado em seguir desenvolvendo um programa de armas nucleares, mas o
Sul também está pronto para reagir com firmeza a qualquer provocação de
Pyongyang.
E é cada
vez mais flagrante a fratura, com ares de Guerra Fria, entre a China e a Rússia
de um lado, e os Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul do outro.
A
deterioração da situação na península foi ilustrada esta semana com a suspensão
do único projeto de cooperação entre os dois Estados, a zona industrial
intercoreana de Kaesong, localizado em território norte-coreano a 10 km da
fronteira.
Apesar
de vulnerável, Kaesong vinha resistindo a todos os sobressaltos desde a sua
criação em 2004.
"De
alguma forma, é um milagre que tenha resistido tanto tempo", afirma Leonid
Petrov, especialista em Coreia do Norte na Universidade Nacional da Austrália.
'Grande
retrocesso'
Mas esta
semana, em resposta ao programa nuclear da Coreia do Norte, Seul anunciou a
suspensão das operações em Kaesong, onde 124 empresas sul-coreanas empregam
53.000 norte-coreanos.
Pyongyang
reagiu imediatamente expulsando sul-coreanos, congelando seus bens e colocando
a área sob controle militar. Seul, por sua vez, cortou o fornecimento de
eletricidade e água.
"Não
vejo como possível um retorno de Kaesong", disse Leonid Petrov. "As
coisas foram longe demais e não há vontade real do Norte ou do Sul de encontrar
uma solução".
Kaesong
foi o resultado da "diplomacia do raio de sol", liderada pela Coreia
do Sul de 1998 a 2008 para incentivar os contatos entre os dois irmãos
inimigos, e o projeto foi mantido à margem do conflito entre os países.
A Coreia
do Sul desejava inicialmente que Kaesong fosse a ponte das reformas
capitalistas no Norte, mas essa esperança nunca foi realizada. No entanto, os
analistas lamentam o fechamento de uma porta fundamental, ainda que pequena,
aberta ao longo da fronteira mais militarizada do mundo.
"Sem
Kaesong, sul-coreanos e norte-coreanos não terão mais qualquer contato regular.
É um grande retrocesso", afirma Aidan Foster-Carter, especialista em
Coreia do Norte no site NK News, com sede na Grã-Bretanha.
Para
Chang Yong-Seok, analista da Universidade Nacional de Seul, uma das vantagens
de Kaesong era manter uma certa civilidade nas relações bilaterais.
As
possibilidades de contato entre Seul e Pyongyang foram ainda mais reduzidas
quando o Norte anunciou que estava cortando as duas últimas linhas de
comunicação existentes entre os dois países.
O corte
dessas linhas ocorre num momento em que os dois países poderiam precisar como
nunca antes.
Em março,
estão previstos exercícios militares conjuntos entre Washington e Seul,
considerados por Pyongyang como o ensaio geral para uma invasão do seu
território, e que sempre gera um aumento das tensões.
Além
disso, a Coreia do Sul e os Estados Unidos se preparam para discutir a
implantação em território sul-coreano de um escudo antimísseis sofisticado.
"Neste
contexto, acredito que atingiremos um nível incomparável de tensão com os anos
anteriores", prevê Chang Yong-Seok.
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